segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma completa estranha

As vezes fico imaginando se há uma dimensão onde exista uma eu que passa por coisas que eu poderia ter vivido, porem não vivi. Na vida, todos os dias para ser mais especifica, sempre nos são dadas múltiplas opções do que fazer de nossas vidas. E eu estou sempre escolhendo a opção que acredito ser a melhor para mim. Mas, nesta outra dimensão da qual estou falando, eu poderia ter adotado qualquer outra opção diferente da qual escolhi na realidade, o que faria de mim uma pessoa completamente diferente do sou. Não somente eu, mas tudo ao meu redor seria diferente aos meus olhos: minhas amizades, minha família, minha casa, etc...


Nesta outra dimensão eu poderia ainda estar em minha antiga casa, em meu grande quarto lilás, com armários do chão até o teto, que ocupavam uma parede inteira, um armário que nunca cheguei a lotar. Eu ainda poderia contar com a presença de meu avô paterno em meus aniversários ou, pelo menos, no de 15 anos, que eu PODERIA ter feito uma festa. Nesta festa, eu poderia ter tido minha primeira valsa com meu pai, que ainda estaria casado com a minha mãe por não ter enlouquecido com a morte do meu avô e com a falência da empresa (que, nesta dimensão, talvez nunca tivesse existido). Aos domingos, ainda estaría com a familia toda reunida diante do nosso home theater assistindo ao filme Spirit, tomando sorvete e sentados juntos, quase abraçados, no sofá da sala.

Poderíamos, também, estar em nosso apartamento na praia, revivendo os tantos momentos maravilhosos que vivemos la. Viagens inesperadas até la no meio da semana, sucos de morango batido com leite acompanhado por porções de fritas no quiosque da praia, idas a ferinha e caminhadas pelo calçadão durante a noite. Depois, ficar até de madrugada na varanda observando o mar, la era onde eu tinha minhas única noites de insônia tranqüilas, onde eu conseguia pensar com clareza a respeito de tudo e onde eu tinha a tola idéia de que as coisas iam continuar como estavam para sempre.

Acredito que, com tantas possibilidades do que poderiam ter me acontecido, nesta outra dimensão eu, talvez, já estivesse morta. Mesmo tendo uma vida curta, esta teria sido uma vida sem medos (muitas vezes, deixei de fazer muitas coisas que gostaria de ter feito por culpa do medo), uma vida muito mais emocionante e que eu jamais conseguirei viver devido à atual sensatez que possuo. Fico tentando imaginar como eu seria física e emocionalmente, tento imaginar quais seriam as minhas atitudes perante as coisas, tento imaginar como seriam minhas relações com as pessoas que me cercam. São tantas as coisas que fico tentando imaginar, cada uma me confunde mais que a outra me deixando sem qualquer certeza de nada. A única certeza que tenho, é de que esta vida não seria a minha e a desconhecida que a viveria não seria eu, mas sim, uma completa estranha.